Diferença entre Jardim Sensorial e Jardim Medicinal e Como Escolher o Ideal para Seu Espaço

Jardim sensorial ou jardim medicinal?

Escolha o melhor para cultivar bem-estar e saúde com plantas em casa.

Você sabia que existem jardins projetados para estimular os sentidos e outros voltados para o uso terapêutico das plantas? 

Os jardins sensoriais e os jardins medicinais são práticas cada vez mais populares em escolas, espaços terapêuticos, residências e até hospitais. Ambos proporcionam contato direto com a natureza, mas cada um possui objetivos e estruturas distintas.

Neste artigo, vou te mostrar as diferenças entre jardim sensorial e jardim medicinal, seus benefícios, como montar cada um e dicas práticas para escolher o ideal para o seu espaço, seja ele um quintal, uma varanda ou uma horta comunitária.

O que é um Jardim Sensorial?

Muito Além da Beleza Estética, o jardim sensorial é um espaço planejado para ativar os cinco sentidos: visão, olfato, tato, audição e paladar. Mais do que um local bonito, ele é terapêutico e educativo, sendo amplamente utilizado em projetos de inclusão social, educação infantil, terapias ocupacionais e práticas integrativas no SUS.

Mais do que um simples jardim decorativo, trata-se de um ambiente terapêutico e educativo, com plantas e elementos naturais selecionados intencionalmente para criar estímulos suaves, envolventes e acessíveis a diferentes públicos, como crianças, idosos, pessoas com deficiência e indivíduos com autismo.

Como funciona na prática?

Os jardins sensoriais são projetados de forma que cada parte do ambiente proporcione uma interação sensorial diferente. Entre os principais elementos, destacam-se:

  • Plantas aromáticas e florais, como lavanda, alecrim e jasmim, que ativam o olfato e ajudam a acalmar.
  • Texturas variadas, com plantas de folhas macias (como lambari) ou ásperas (como babosa), que incentivam o toque consciente;
  • Cores vibrantes e contrastes, que despertam a curiosidade visual e contribuem para o estímulo cognitivo;
  • Sons naturais, como o barulho da água em fontes ou o canto de pássaros, que promovem relaxamento;
  • Ervas comestíveis, como hortelã e manjericão, podem ser usadas em oficinas de educação alimentar, ativando o paladar e promovendo saúde.

Benefícios Terapêuticos

O jardim sensorial tem aplicações amplas na saúde e na educação. Veja como ele pode ajudar diferentes públicos:

Para crianças em idade escolar

Estimula o desenvolvimento cognitivo, coordenação motora e linguagem, além de servir como ferramenta de educação ambiental.

Para pessoas com deficiência (PCDs)

Promove inclusão e acessibilidade, com caminhos táteis, identificação de plantas em braille e estruturas adaptadas.

Para autistas

Reduz a ansiedade, ajuda na regulação sensorial, favorece o foco e o autoconhecimento. Estudos mostram que ambientes naturais com estímulos controlados podem reduzir comportamentos repetitivos e melhorar a socialização (Fonte: Hussain, JAMA Pediatrics, 2019).

Para idosos

Estimula a memória afetiva, contribui para a prevenção de doenças neurodegenerativas, reduz sintomas de ansiedade e depressão e melhora a qualidade de vida geral.

Para todos nós

Oferece um refúgio para desacelerar o estresse diário, cultivar a atenção plena (mindfulness) e se reconectar com os ritmos naturais da vida.

A Ciência por Trás dos Benefícios

Diversos estudos vêm comprovando os efeitos positivos do contato com a natureza. Um estudo publicado na Frontiers in Psychology (2019) demonstrou que 20 minutos em um ambiente natural já são suficientes para reduzir significativamente os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Além disso, ambientes que promovem estímulos sensoriais equilibrados são usados em terapias ocupacionais, neuropsicologia e reabilitação física e emocional.

Um jardim sensorial não é apenas um espaço bonito é um instrumento poderoso de inclusão, autocuidado e reconexão com a natureza. Seja em escolas, casas de repouso, centros terapêuticos ou até mesmo em pequenos espaços urbanos, ele pode transformar vidas através dos sentidos. E o melhor: você pode começar um com simplicidade, escolhendo algumas plantas e elementos naturais certos.

Quais são os Principais Elementos de um Jardim Sensorial?

Um jardim sensorial é construído com intenção: cada planta, textura, som ou cor é escolhida para despertar os sentidos de forma integrada e terapêutica. Ao contrário de um jardim ornamental, que foca apenas na estética, o jardim sensorial é funcional, inclusivo e interativo. Conheça os principais elementos que o compõem e por que são importantes:

Plantas Aromáticas – Estímulo do Olfato

O olfato está diretamente ligado às áreas do cérebro que regulam emoções e memórias. Por isso, ervas e flores com aromas marcantes são essenciais.

Exemplos: lavanda (calmante), alecrim (estimulante), hortelã (revigorante), manjericão (energizante), erva-doce (suave).

Benefício: ajudam na regulação emocional, memória afetiva e estados de ansiedade.

Plantas com Texturas Variadas – Estímulo do Tato

Toque é uma forma poderosa de desenvolver a consciência corporal e sensorial, especialmente em crianças e pessoas com deficiência.

Exemplos: orelha-de-elefante (aveludada), babosa (gelatinosa), capim-limão (áspero), lambari (macio), cacto (espinhoso com cautela).

Benefício: promove experiências multissensoriais, melhora coordenação motora e integração sensorial.

Cores e Contrastes Visuais – Estímulo da Visão

O uso de cores vibrantes, contrastes e formas variadas tem forte impacto na atenção, cognição e percepção visual.

Exemplos: flores como girassol, tagetes, cravinas, lírios, sálvias e lavandas.

Dica: mesclar cores quentes (vermelho, laranja) e frias (azul, lilás) para equilíbrio visual.

Benefício: ativa a criatividade, melhora o foco e estimula pessoas com deficiência visual leve.

Sons da Natureza – Estímulo da Audição

Sons suaves e naturais ajudam a acalmar o sistema nervoso e a aumentar o estado de presença.

Elementos: fontes d’água, sinos de vento, bambus ocos, folhas que fanfarrão com o vento, áreas que atraem pássaros.

Benefício: alívio do estresse, melhora da respiração e indução ao relaxamento.

Plantas comestíveis e medicinais – Estímulo do Paladar

Incluir plantas que podem ser degustadas com orientação permite vivências interativas e educativas.

Exemplos: capuchinha (flor comestivel), hortelã, sálvia, erva-cidreira, tomilho, orégano.

Aplicações: oficinas de chás, saladas, sucos ou lanches saudáveis.

Benefício: aproximar o visitante da alimentação consciente e da fitoterapia leve.

Caminhos Táteis e Acessíveis

Os caminhos do jardim são mais do que vias, são partes da experiência. Pisos variados, texturas e curvas convidam ao contato com o solo.

Materiais: pedras lisas, madeira, grama, areia, terra batida, cascas de árvores.

Acessibilidade: incluir rampas suaves, corrimãos e largura adequada para cadeirantes.

Benefício: promove a integração física com o espaço, favorecendo equilíbrio e propriocepção.

Recursos Educativos e Inclusivos

Um bom jardim sensorial também educa e acolhe. Elementos de acessibilidade e informação são fundamentais.

Placas em braille e linguagem simples, QR codes com áudios explicativos, jogos sensoriais, hortas verticais interativas.

Benefício: promove inclusão, autonomia e pertencimento.

Espaços de Pausa e Contemplação

O silêncio e a pausa também são estímulos importantes. Bancos sob sombra, redários, tendas ou pérgolas promovem o descanso sensorial.

Benefício: tempo para assimilação, meditação e reconexão interior.

Esse conjunto de elementos transforma o jardim em um verdadeiro espaço terapêutico, educativo e acessível. Um refúgio que nutre corpo, mente e alma.

O que é um Jardim Medicinal?

Resgate dos Saberes Ancestrais com Propriedade Terapêutica

O jardim medicinal é um espaço voltado para o cultivo de plantas com propriedades fitoterápicas, usadas historicamente para apoiar a saúde humana. Diferente do sensorial, ele tem foco funcional e terapêutico, embora também possa ser esteticamente belo.

Características do Jardim Medicinal

  • Plantas com funções terapêuticas reconhecidas, como arnica, camomila, babosa, boldo e erva-doce
  • Organização por sistemas corporais: digestivo, respiratório, nervoso, etc.
  • Presença de placas informativas com nome científico e uso tradicional
  • Espaço para preparo de chás, infusões, unguentos ou tinturas
  • Pode ser circular, em espiral, canteiros ou vasos suspensos

Importância Cultural e Científica

Os jardins medicinais resgatam o conhecimento de raizeiros, benzedeiras e curandeiros, sendo um elo entre a botânica e a medicina popular. Hoje, muitos desses saberes têm validação científica, como a utilização da erva-cidreira para acalmar ou do gengibre para náuseas.

Segundo a Fiocruz, mais de 82% da população brasileira recorre a plantas medicinais como apoio terapêutico primário, especialmente em áreas rurais e periféricas.

Um jardim medicinal é um espaço cultivado com plantas que possuem propriedades terapêuticas reconhecidas, utilizado como fonte de autocuidado, educação em saúde, promoção da autonomia popular e conexão com os saberes ancestrais. Muito mais do que um canteiro de ervas, ele representa uma farmácia viva, onde cada planta tem uma função específica e um saber que se transmite de geração em geração.

Com raízes na tradição indígena, na fitoterapia e na agroecologia, o jardim medicinal integra saúde, sustentabilidade e soberania alimentar, podendo ser adaptado a qualquer espaço: quintais, varandas, hortas comunitárias, escolas, unidades de saúde e até vasos na janela.

Finalidade e importância

Diferente do jardim sensorial, que estimula os sentidos, o jardim medicinal tem como foco a funcionalidade terapêutica das plantas, com aplicação prática no preparo de chás, tinturas, banhos, compressas, xaropes e cosméticos naturais.

Ele é uma estratégia simples e poderosa para:

  • Reduzir o uso excessivo de medicamentos alopáticos, com respaldo da fitoterapia regulamentada pela ANVISA;
  • Promover autonomia da comunidade em práticas integrativas de saúde;
  • Estimular a prevenção e o cuidado com doenças comuns, como gripes, insônia, ansiedade, má digestão, cólicas, dores musculares e inflamações leves;
  • Reforçar a educação ambiental e alimentar, fortalecendo a identidade cultural dos povos e comunidades tradicionais.

Quem pode se beneficiar?

O jardim medicinal é um recurso terapêutico e educativo acessível a todas as idades. Seus benefícios alcançam:

  • Famílias e cuidadores

Possibilita cuidados naturais no dia a dia, como chás para cólica infantil, pomadas para picadas de insetos e compressas para dores musculares.

  • Agentes de saúde e terapeutas

Funciona como recurso pedagógico em oficinas, visitas domiciliares, rodas de saberes e práticas de auto cuidado em grupos terapêuticos.

  • Escolas e projetos sociais

Ensina biologia, ciências, ecologia, história, cultura popular e nutrição de forma viva e interativa, estimulando o cultivo desde cedo.

  • Idosos e comunidades rurais

Resgata saberes tradicionais, valoriza a biodiversidade local e contribui para o envelhecimento ativo e saudável.

Fundamento científico e regulamentação

No Brasil, o uso das plantas medicinais é respaldado por políticas públicas. O SUS reconhece as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), com destaque para a fitoterapia, que integra o cuidado primário.

Segundo a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Ministério da Saúde, 2006), o incentivo à criação de jardins medicinais em UBSs, escolas e comunidades é uma estratégia de valorização da biodiversidade e da cultura tradicional.

Estudos mostram que o uso racional de plantas medicinais pode ser seguro e eficaz. A Unesp de Botucatu, a Fiocruz e universidades como UFMG e UFSC mantêm bancos de dados e linhas de pesquisa sobre a eficácia e toxicidade das principais ervas utilizadas.

Exemplo de plantas comuns em jardins medicinais

  • Camomila (Matricaria chamomilla) – calmante, digestiva, anti-inflamatória
  • Babosa (Aloe vera) – cicatrizante, hidratante, regeneradora
  • Erva-cidreira (Melissa officinalis) – ansiolítica, relaxante
  • Alecrim (Rosmarinus officinalis) – tônico mental, digestivo
  • Confrei (Symphytum officinale) – regenerador de tecidos (uso externo com cautela)
  • Guaco (Mikania glomerata) – expectorante natural
  • Hortelã (Mentha spicata) – digestiva, refrescante

Criar e cuidar de um jardim medicinal é um gesto de amor, resistência e sabedoria. Ele permite reconectar com a natureza, com o corpo e com a ancestralidade. Seja num grande quintal ou num pequeno vaso na sacada, cada folha cultivada é um passo rumo à saúde integral e à autonomia.

Um jardim medicinal não é apenas um lugar, é um instrumento de cura, educação e transformação social.

Como Montar um Jardim Sensorial em Casa?

Passo a Passo Simples e Criativo

  • Escolha um local acessível e com luminosidade natural
  • Use vasos ou canteiros com plantas como:
    • Lavanda, manjericão (olfato)
    • Capuchinha (paladar)
    • Sálvia e alecrim (tato)
    • Girassol (visão)
    • Bambu ou sino dos ventos (audição)
  • Crie caminhos com seixos, madeira ou cordas
  • Inclua objetos com diferentes texturas e sons suaves
  • Planeje a altura para que crianças ou cadeirantes possam interagir

Como Criar um Jardim Medicinal Funcional?

Organização com Intenção Terapêutica

  • Liste as principais queixas de saúde que deseja apoiar: ansiedade, insônia, digestão, imunidade…
  • Escolha plantas seguras e bem estudadas como:
    • Camomila: relaxamento
    • Alecrim: foco e memória
    • Hortelã: digestivo
    • Babosa: regeneração da pele
  • Organize por categorias (sistema respiratório, digestivo, etc.)
  • Use etiquetas com nome popular, científico e modo de uso
  • Instale uma área de preparo com chaleira ou pilão

Pode ter os dois jardins no mesmo espaço?

Sim! Eles são complementares e podem coexistir harmoniosamente. Basta delimitar áreas específicas, integrando:

  • Aromáticas como manjericão e hortelã nos dois jardins
  • Cantinho sensorial com flores vibrantes e fontes
  • Cantinho medicinal com chás e plantações funcionais

Essa integração potencializa os efeitos positivos na saúde mental e física.

Projetos brasileiros que inspiram

  • Rede de Hortas Escolares do SUS-SP: espaços com hortas e jardins medicinais em unidades básicas de saúde e escolas
  • Projeto Terrapia – Fiocruz/RJ: promove o uso seguro de plantas medicinais e alimentação viva
  • Projeto PANC na Escola – UFSCAR: uso educativo de plantas alimentícias não convencionais (PANC) em jardins sensoriais

Qual Jardim é Ideal para Você?

Se você busca um espaço que promova relaxamento, bem-estar sensorial e interação familiar, o jardim sensorial é uma excelente escolha. Agora, se sua intenção é apoiar a saúde por meio do uso consciente das plantas, o jardim medicinal será seu aliado.

E por que não unir os dois e criar um santuário terapêutico completo no seu quintal, varanda ou comunidade?

Experimente começar com duas ou três plantas, observe os efeitos e vá ampliando conforme seu tempo e espaço permitirem. Cultivar um jardim é também cultivar auto cuidado, ancestralidade e conexão com a natureza.

Aviso Legal

As informações aqui compartilhadas têm caráter educativo e não substituem o acompanhamento médico ou de profissionais da saúde. O uso de plantas medicinais deve ser feito com cautela e, preferencialmente, com orientação de um profissional habilitado.